segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Surfista Prateado: Parábola (1988-1989)



Melhor diálogo de todos os tempos?



Surfista Prateado: Parábola (1988-1989)

Roteiro: Stan "The Man" Lee

Arte: Moebius

Editora: Marvel, Abril (Graphic Novel 11: 1989)


"Não nos é permitido saber se lograremos êxito ou não. Não há desonra em falhar. Só existe uma vergonha definitiva: a vergonha de não ter tentado."


Em um futuro não muito distante, Galactus, o devorador de planetas, retorna ao planeta Terra consumido pela sua fome. Impedido de nos atacar por uma promessa feita tempos atrás, sua presença estática é suficiente para levar a humanidade, sedenta em busca de Deus, ao caos. Lutando contra a teimosia e a hipocrisia, o Surfista Prateado parte para mais uma jornada quase impossível para tentar livrar o homem de sua cegueira. Venceu o prêmio Eisner de melhor minissérie em 1989.


O Surfista Prateado é sem dúvida um dos personagens mais singulares de todos os tempos, um alienígena que, ao mesmo tempo que não se conforma com a autodestruição humana, percebe em nossa raça a presença de qualidades tão puras e nobres que valem qualquer esforço. O Surfista surgiu pela primeira vez na clássica trilogia de Galactus apresentada em 1966 por Stan Lee e Jack Kirby (Fantastic Four #48,49,50), onde é o discípulo de Galactus. No fim, após perceber as virtudes que o homem pode desenvolver, ele se vira contra o seu mestre e ajuda os heróis a salvarem o planeta.


Ao longo dos próximos anos o Surfista ficaria bem popular, principalomente dentro do contexto do movimento hippie e estudantil americano contra a Guerra do Vietnã, e ganharia sua própria revista, sendo agora desenhado por John Buscema. Stan Lee sempre diz que o Surfista é o seu personagem principal, e o compara a Jesus Cristo, vide o título desta obra, já que Cristo é conhecido por falar aos seus seguidores por parábolas, que são diálogos alegóricos que procuram passar no fundo um significado moral.


Realmente o Surfista Prateado é fascinante, e talvez a sua melhor história desde a clássica trilogia seja Parábola, inicialmente uma minissérie em duas edições, lançada aqui no Brasil compilada em apenas uma revista. Parábola marca pela primeira vez a combinação de Lee com a lenda dos quadrinhos europeus Jean Giraud, o Moebius. É uma história feita no final da década de 80, onde o mundo vive o clima de intensa crise da União Soviética e ainda respira algum resquício de uma possível guerra nuclear, mas já está às portas da selvageria da globalização.


Lee preferiu escrever a história em uma espécie de futuro alternativo, sem a presença de qualquer outro super-herói, e fez, mais uma vez, uma obra prima. Escrever histórias do Surfista Prateado é muito difícil. É um personagem com poderes quase infinitos, o que limita em muito seus inimigos na Terra (problema semelhante ao do Superman), e seu diálogo é um diálogo sofrido, que nas mãos de um escritor pouco cauteloso acaba se tornando saturado. Além disso, o Surfista não tem um apelo infantil forte. Devido a essas limitações, a maioria das revistas continuadas do Surfista não foram sucesso de vendas. A própria série original acabou produzindo apenas 18 números. Uma das saídas mais fáceis é levar o Surfista para o espaço, equiparando-o com outros personagens poderosos. Porém, ao realizar isso, o escritor acaba com a dualidade Surfista/Planeta Terra, fundamental para dar vida a qualquer obra do herói.


Lee e Moebius criam uma história cheia de simbolismos (utilizando leves parábolas) e lições. Um inescrupuloso líder religioso se aproveita da situação para criar um culto a Galactus. A humanidade alcança a paz com medo do que Galactus pode fazer, mas o próprio Galactus quer a destruição da Terra, e por isso diz que não há pecado, que tudo é permitido, levando o homem a um estado de total selvageria. Será Galactus um Deus? Essa é uma dúvida que os homens lançam ao próprio Galactus.


Os diálogos de Lee são clássicos e bem "literários". As frases de impacto se sucedem uma atrás da outra. Moebius traz uma arte mais estática, fria, européia, evitando a utilização de movimentos intensos dos personagens, se afastando do estilo Kirby de desenhar. É uma obra importante, que acrescenta pouco ao personagem, é verdade, mas que busca mais uma vez abrir nossos olhos para nossos defeitos.


Pros:

- O Surfista Prateado é fascinante mas difícil de se trabalhar, e Parábola acha o tom certo para o personagem brilhar.

- A não utilização de outros super-heróis, colocando a história em uma espécie de futuro alternativo.

- É muito interessante vermos um estilo de arte europeu, ainda mais da década de 80, em uma história da Marvel.

- Os diálogos do Surfista raramente foram melhores.


Contras:

- A história faz a gente pensar e ponderar, mas ela não aprofunda em muitos aspectos. Dá a sensação de que Lee só trabalha aqui o superficial, inclusive com os personagens sendo unidimensionais, com exceção do Surfista e de Galactus.

- Apesar de achar o tom certo nos diálogos do Surfista, Lee faz quase todos os personagens falarem parecido, de forma pomposa e pouco mundana.


Rating: 9/10